domingo, 7 de agosto de 2011

Gatos pardos

Gosto da casa à noite. Depois que as crianças dormem. Quando nada me alcança. Quando há um silêncio tranquilo que observo à meia-luz e vislumbro a cidade lá longe como que pintada na minha janela.  Há um certo aconchego que invade a casa. Tarde da noite. As crianças na cama, aquela entrega infantil ao sono que me comove todas as noites quando entro nos seus quartos. Há sempre uns grilos cantando na mata ao lado, um cachorro que late na casa da frente e outro que responde mais adiante. Às vezes, há gatas no cio.
Sigo um certo ritual depois que os dois adormecem. Cada um no seu quarto, as portas fechadas, a babá eletrônica ligada. Depois do banho quente esquento meu jantar, tomo um copo de vinho.
Vago pela casa observando seus recantos, aquele silêncio sagrado que me acompanha. Quase sempre adio a ida pra cama encontrando coisas para fazer que me impedem de chegar a ela. Não que eu não a deseje mas há sempre algo por fazer. Finalmente chego ao meu quarto. Depois de olhar as crianças mais uma vez pego um copo d'água filtrada. Deixo uma pequena luz acesa no corredor para servir de guia caso o mais velho acorde e venha até o meu quarto. Entro na minha cama pelo lado esquerdo. Começo a noite com dois travesseiros, o pescoço mais alto, de barriga para cima.  Leio um pouco. Menos do que gostaria. Apago o abajour e logo em seguida viro para o lado. O braço direito por baixo do travesseiro, as pernas dobradas, semi-encolhidas. Caio num sono profundo, de poucos sonhos, até que um dos dois me desperte ou que a luz vinda de trás do black-out me faça abrir os olhos.

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