quarta-feira, 30 de março de 2011

Tive sim

Minha amiga Ju escreveu em seu blog que por duas vezes teve o coração estraçalhado.

Eu tive o coração estraçalhado uma única vez. Já lá se vão muitos e muitos anos mas acho que, graças ao texto da minha amiga, pela primeira vez nomeei corretamente. É isso, tive o coração estraçalhado uma vez, há muitos anos atrás. Depois disso me decepcionei muitas vezes, cai do cavalo tantas outras, levei rasteiras, me frustrei, fiquei devastada pela tristeza,  mas o coração não foi novamente estraçalhado.

Numa das idas e vindas desse namoro,  aquele que estraçalhou meu coração, minha mãe me encontrou no meu quarto de adolecente, encolhida na cama, aos prantos. Ela fez com que eu me sentasse e me pediu o seguinte: minha filha, você vai me prometer uma coisa. Você vai sofrer caminhando na Lagoa, fazendo ginástica, indo ao cinema ou lavando louça mas nunca mais encolhida em cima da sua cama. O sofrimento, digamos, produtivo, recomendado pela minha mãe foi incorporado por mim, uma dessa boas lições que ficam para toda a vida. Segui com o meu coração estraçalhado por aí até o dia em que a dor passou.

Nesse mesmo período, imagino eu que arrasada ao ver a filha sofrer daquele jeito, ela me disse que se sentia responsável pela minha grande espectativa em relação ao amor. Me contou que quando eu nasci ela foi tomada por um amor tão avassalador que nada mais existia para ela. Que não sabia como meu pai tinha aguentado. E que por isso, por ter experimentado, no início da vida, aquele amor incondicional e tão intenso, ela achava que eu esperava ter novamente aquele tipo de amor nas minhas relações amorosas mas que isso nunca ia acontecer. Hoje vejo que ela tinha razão. Essa primeira experiência amorosa do filho com a mãe é única. Somos introduzidos ao afeto através desse contato e me parece que faz sentido que isso de alguma forma nos molde afetivamente.

É. Meu coração foi estraçalhado uma vez. E hoje me sinto bem ao fazer essa constatação. Como que aliviada. Não apenas por ver que fui muito poupada pela vida mas, principalmente, por ter experimentado um sentimento tão intenso por alguém por tanto tempo. Por ter vivido aquilo sem o quê o meu coração não teria sido estraçalhado. Me pergunto às vezes em que medida há uma certa idealização da minha parte. Em que medida há um componente de fantasia na minha percepção desse romance. Será que para ele também foi assim? Incrível, intenso, apaixonado, desesperado, fatal, inesquecível? Será que o coração dele também foi estraçalhado? Diz uma amiga que se eu vivi isso dessa maneira, para ele também foi assim, não tem como ser diferente. Não sei. Mas queria muito saber. Me daria um conforto enorme saber que sim, que ele também foi desesperadamente apaixonado por mim, que sim, ele também sofreu muito, que doeu muito e que sim, eu apareço nos sonhos dele como ele aparece nos meus e que sim, vivemos aquilo, que aquele amor existiu de fato.

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