quinta-feira, 31 de março de 2011

Deixa a menina sambar em paz

Foi meu amigo Martim quem me contou. Tomamos um café na semana passada. Papo vai, papo vem, ele me conta a tal história. Parece que era uma moça linda, dessas beldades cariocas conhecidas por seus encantos. Cobiçada e, nas palavras do meu amigo, "gostosa". Rio de Janeiro, verão, início dos anos 80. Contou ele, achando muito divertido, que numa noite da sua juventude estava com amigos no Bar Lagoa. Eis que chega a tal moça acompanhada de um conhecido dele, Martim,  e acaba sentando na sua mesa. A noite avança animada e a moça vai embora com o tal conhecido do Martim com quem havia chegado. Passa-se meia hora e a moça volta.  Agora sozinha, senta na mesa sem tecer nenhum comentário e engrena um papo animadíssimo novamente. Hora de ir embora, todos se levantam, e a moça sai acompanhada de um amigo do Martim. No dia seguinte, Martim, que adora uma fofoca, liga para o amigo e ouve um relato entusiasmado da noite passada com a tal menina. Que a moça era incansável, que ele estava exaurido, que isso, que aquilo. Martim delira ao vivenciar, ainda que platonicamente, o encontro do amigo. Tempos depois outro amigo do Martim está numa boate "da moda". Chega a moça. Linda, insinuante e devidamente acompanhada. A noite transcorre como previsto. Todos se divertem, bebem, dançam e começam a ir embora. Como na primeira vez, a menina vai embora acompanhada daquele com que quem havia chegado. Meia-hora depois volta ela sozinha e toda-toda. Se esbalda na pista de dança, no papo, no bar. Sai da boate acompanhada do tal outro amigo do Martim. No dia seguinte... liga o Martim para o amigo e ouve, mesmerizado, os detalhes da noite que o amigo passou com a moça e que o deixaram arriado. Conclui o meu amigo Martim de maneira sarcástica, que a menina "era da pá-virada" e lamenta o fato dela ter vindo a falecer anos depois.
Não ficou claro para mim, e eu resolvi não perguntar, se a tal moça ia para cama com os dois caras ou se saía com um que dispensava, sem maiores avanços, ao avistar uma possibilidade mais interessante com quem resolvia, então, chegar às vias de fato. E o que é que a gente tem a ver com isso?
O que me chamou a atenção não foi propriamente a história em si mas o relato do Martim. A entonação, a malícia, as insinuações nas entrelinhas. Ele não precisou me dizer mas tenho certeza de que a tal moça era, na sua visão, uma "predadora" altamente qualificada, uma perigosa devoradora de homens.
Caminhei para casa pensando que eu jamais ouviria um relato semelhante se o protagonista da história fosse do sexo masculino. Acho que para começar isso nem seria uma história a ser saboreada pelo meu amigo junto com seu capuccino. Algo tão corriqueiro e natural, oras, vamos tratar de assuntos mais importantes.

3 comentários:

  1. Que bom poder ler seus posts/cronicas/contos e afins. Sucesso com o Blog!
    bjs

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  2. Clari,
    Enquanto você exercita sua paixão, nós nos divertimos e nos emocionamos
    Parabéns! Adoro gente que se arrisca e sai buscando novos caminhos
    Bjs
    Chris

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